Mastigar pastilha está a impedir-te de engravidar?

Pode parecer exagerado, mas não é uma pergunta ao acaso. A ciência tem vindo a mostrar que os microplásticos estão por todo o lado — inclusive dentro de nós. E um dos caminhos menos falados por onde entram no corpo é... pela mastigação de pastilha elástica.

Um estudo recente, apresentado na American Chemical Society (ACS), analisou várias marcas populares de pastilha e confirmou que a maioria contém polímeros sintéticos como o polietileno e o poliacetato de vinilo — os mesmos usados em plásticos industriais. Durante a mastigação, estas bases sintéticas libertam micro partículas de plástico invisíveis, que podem ser ingeridas e absorvidas pelo organismo.

E o que é que isso tem a ver com a fertilidade? Tudo. Cada vez mais estudos apontam para a ligação entre microplásticos e desequilíbrios hormonais, tanto em mulheres como em homens. Estas partículas podem interferir com o sistema endócrino, favorecer a inflamação e até transportar toxinas ambientais que se acumulam nos tecidos.

Microplásticos e saúde hormonal: o que sabemos até agora?

Estas partículas microscópicas transportam consigo disruptores endócrinos — substâncias que interferem com a produção, ação ou regulação das hormonas. E como sabemos, o sistema hormonal está na base da ovulação, da produção de esperma, da implantação embrionária e do desenvolvimento fetal.

Em mulheres, a exposição crónica a microplásticos tem sido associada a:

• Alterações na ovulação

• Desequilíbrios entre estrogénios e progesterona

• Maior inflamação sistémica e local, relevante em casos como endometriose ou SOP

Nos homens, os microplásticos têm sido ligados a:

• Redução da qualidade do esperma

• Danos ao ADN espermático

• Alterações nos níveis de testosterona e inflamação testicular

Presença comprovada em tecidos reprodutivos humanos

O mais preocupante? Os microplásticos não estão apenas a circular no sangue. Estudos recentes já os identificaram no líquido amniótico, no cordão umbilical, na placenta — e agora também no fluido folicular, o líquido que envolve o óvulo em desenvolvimento dentro do ovário e que é determinante para a sua maturação e qualidade.

Um estudo publicado em 2025 na revista Ecotoxicology and Environmental Safety, conduzido por Luigi Montano e equipa, analisou amostras de fluido folicular de 18 mulheres a realizar tratamentos de fertilidade. Em 14 dessas amostras, foram encontrados microplásticos com tamanho inferior a 10 μm, numa média de mais de 2.000 partículas por mililitro.Os autores detetaram ainda uma correlação significativa entre a presença de microplásticos e os níveis de FSH — um dado que pode indicar interferência direta na função hormonal e na qualidade dos óvulos.

A ciência já começou a mostrar que os microplásticos também chegam ao sistema reprodutor masculino — e podem ter impacto na fertilidade. Um estudo recente detetou microplásticos em todas as amostras de sémen humano analisadas, confirmando que estas partículas podem estar presentes mesmo em homens saudáveis.

Embora ainda estejamos a compreender o verdadeiro alcance destes efeitos, os dados já apontam para uma ligação preocupante entre a exposição ambiental a microplásticos e a qualidade do sémen e da função reprodutiva masculina.

Dizer adeus à pastilha?

Claro que ninguém engravida ou deixa de engravidar apenas por causa da pastilha elástica. Mas quando falamos de fertilidade, há um conjunto de escolhas do dia a dia que somam — ou que desequilibram. E esta pode ser uma dessas escolhas.

Optar por pastilhas com base natural (como goma de árvore ou chicle natural) é uma forma simples de reduzir a exposição a microplásticos. E mais do que isso: é uma oportunidade de estarmos mais atentos à forma como os produtos que usamos afetam a nossa saúde reprodutiva — mesmo os mais banais.

A fertilidade não depende apenas das grandes decisões. Depende da forma como cuidamos do nosso corpo todos os dias.

Referências:

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